quarta-feira, 22 de junho de 2011

Comoção nacional, comoção jornalística

Já deu de mostrar toda hora esse bandido, hein? Só estão fazendo justamente o que ele queria...”

“Pronto, Wellington vai virar celebridade e ser transformado num mártir pra outros perturbados. Parabéns, imprensa!”

“Jornais como sempre capitalizando na desgraça alheia. Será que não basta de choro e sofrimento?”

Tweets a respeito do Massacre de Realengo.

Quando li estes comentários, fiquei com uma certa agonia da mídia. Será que estão mesmo forçando a barra? Logo depois, me coloquei na posição de pura espectadora. E num exercício de sinceridade, me perguntei e respondi sem hipocrisias: tive eu interesse em ler/assistir àquelas matérias? Não posso mentir, sim.

Quis saber do histórico familiar e escolar do homicida, ver o estado dos pais cujos filhos de repente viraram vítimas da situação grotesca e sem precedentes no país, assim como o que os sobreviventes testemunharam e como se sentiam agora. Pronto, falei. E creio que se a maioria das pessoas expressasse total honestidade, também admitiria tal curiosidade, esperando, portanto, exatamente o que os meios mostraram — um pouco mais, um pouco menos.

Posteriormente, como estudante de jornalismo, procurei colocar-me no lugar de um colega de profissão que estivesse cobrindo o fato. Pânico. O que fazer? Deveria eu apenas citar o bê-a-bá da notícia ou ir atrás de desdobramentos que porventura pudessem causar desconforto? Devo satisfazer somente o interesse público ou também o interesse do público? Essa classificação é, talvez, a maior dúvida do Jornalismo. E decorrente dela é o drama lancinante que nos acomete, pobres repórteres hamletianos, em momentos em que olhamos para a cabeça do editor, quase fumegando de tanto estresse, e podemos imaginá-la em nossas mãos, sendo indagadas: "Ser ou não ser sensacionalista? Eis a questão"

Capturar Cérbero é fácil, quero ver é Hércules realizar o 13º trabalho de cobrir um fato de comoção nacional. Porque só mesmo uma temporada no Olimpo e uma imortalidade básicas para compensar a dificuldade disso.

Lógico que tiramos daqui os extremos de mau gosto que existem por aí e falamos do jornalismo, hm, sério, ou que pelo menos tem a pretensão de sê-lo. É sempre difícil saber o que já virou exagero quando se cobre um acontecimento que por si só é hiperbólico. Seria tão mais prático se houvesse um medidor de sensacionalismo, né? Tipo:

Imagem do enterro = Ok.

Close nos parentes chorando = Nível tabloide britânico.

Narração adjetivada e carregada= Deixe os discursos poéticos para Pedro Bial.

Mas isso não existe.

Apesar de muitas vezes o famigerado “mostrar o lado humano da tragédia” ser eufemismo para explorar a desgraça alheia ao máximo, a realidade não é edulcorada mesmo. E precisa ser mostrada.

Expor fotos e vídeos de Wellington, entrevistar o “Maníaco do Parque” ou os Nardoni em horário nobre, desvelar a vida de luxo e poder que traficantes levavam no Morro do Alemão... Isso de certa forma é dar publicidade a crimes? Sim. Isso pode encorajar outras mentes doentias? Sim. Então, isso deve ser extirpado dos noticiários? Não.

Acho que se os jornalistas podem ter acesso a esses materiais, eles têm que ser divididos. Porque eu e você, mesmo que consideremos essas coisas desagradáveis, temos o direito de tê-las publicadas.

Na minha opinião, o problema é da forma, e não do conteúdo. Eventuais excessos na abordagem ocorrem, mas o mundo é intenso e chocante de fato, não há como escapar disso. Se os jornais só mostrassem amenidades, o problema seria outro: alienação.

Se você sente ojeriza pelo confronto direto com a informação, a melhor coisa que pode fazer é simplesmente tentar evitar olhá-la. E aliás, a única também.

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Escrevi esse texto há uns dois meses e chego aqui, contrariando o preceito básico de atualidade imperativa da minha profissão, um tanto ( bastante) atrasada para comentar o caso. Entretanto, apesar de o ocorrido já não estar mais tanto em pauta, a discussão sobre o sensacionalismo no jornalismo é atemporal.

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