Eu nunca quis ser paquita.
Mas não porque desgostasse das soldadinhas de chumbo trabalhadas na água oxigenada. Do alto dos meus cinco anos, eu sonhava grande: queria ser a Xuxa. Afinal, por que me contentar em ser assistente quando eu podia ser a própria estrela? Ela era loira de olhos azuis, alta, descia de uma nave espacial e gravava especiais de Natal em cenários disneylândicos.
Mal sabia eu que aí estava o germe daquela que me acompanharia o resto da vida... a ambição. Mais do que apresentar um programa excessivamente policromático e mediar o famigerado “meninos x meninas”, eu, agora vejo, lá no fundo já almejava poder e visibilidade. É, isso mesmo.
Cheirando ainda a leite, poderia horrorizar Adorno e Horkheimer com minha adoração precoce pela Indústria Cultural: o fascínio da perspectiva de ter a minha cara estampada em vários produtos, lançar moda, dar autógrafos, ver gente chorando por mim e, pasmem, até ter um parque temático.
Nessa época, a Xuxa nem sequer tinha o dela (construído nos anos 2000 em um shopping de São Paulo). Sei que parece megalomaníaco demais para uma criança, mas eu realmente tinha essa ideia, e não imagino de onde a tirei. Cheguei a fazer um desenho do tal parque, uma espécie de planta com os brinquedos (só consigo lembrar da roda gigante com cabines em forma de nave) e uma imensa fachada cor-de-rosa. Mostrei para uma amiga, a Lis, mas não recordo sua reação. Acho que não ganhei muita atenção — ela sempre preferiu as Chiquititas mesmo.
Aposto que a maioria das pessoas me vê hoje como relativamente pacata. Mas a influência de Lady Maria da Graça não me deixaria incólume. Não se enganem com a fala doce: a inquietude me consome. Pra começar, sou extremamente perfeccionista. Do tipo que quer tudo, e pra ontem. Neurótica com erros. Sedenta por novidades. Acometida por Fomo (Fear Of Missing Out). E competitiva. Não na vertente Regina George da coisa, mas por sentir-me mortificada quando alguém se destaca em coisa que sei que também poderia fazer.
A frustração é inevitável, pois tantas ideias e planos podem às vezes dar a sensação de não conseguir fazer nada ao fim e ao cabo. Mas também é bom, visto que o alcance de uma plena "satisfação" significa perda de sentido —pelo menos para mim.
Não sei até onde tudo isso poderá me levar... Só espero que a bem longe. Daqui a alguns anos encontro vocês por aí em algum lugar: redação de jornal, escritório, set de filme, fazendo mochilão pelo mundo...
Ou, vai saber, até mesmo dando voltas na roda gigante do meu parque temático.
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Amigas, em todo o caso, o TessWorld desde já garante passaportes vipíssimos para vocês, ok? HAHAHA