sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Toda mulher é doida

"Toda mulher é doida. Impossível não ser.

A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais.

Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar louca e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca.

Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.

Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham.

Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.

Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.

E santa, fica combinado, não existe.

Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada?

Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."

Martha Medeiros

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Querido Diário

Algo bastante significativo aconteceu na minha vida há uns dias. À primeira vista simplório e singelo, bobo até, mas que realmente importou para mim: escrevi a última página do meu diário.

Tenho-o comigo desde os dez anos, o que torna o fato mais simbólico ainda: na virada para os 2.0, este decênio traduzido em letras feias rabiscadas nas folhinhas decoradas por potes de mel e simpáticos ursinhos Pooh com seus inflados abdomens representa metade da minha vida, e termina justamente quando me inicio em outra década.

Sei que muitos associam o hábito a garotinhas meio acéfalas que suspiram por um menino qualquer do colégio e sacramentam suas paixões com corações flechados preenchidos com seus nomes e os dos objetos de afeto. Eu, porém, refuto totalmente essa ideia — muito distorcida. Sempre achei diário uma maneira fantástica de resgatar o passado, rememorar os acontecimentos, o que passava pela sua cabeça, seus medos, inseguranças, a sensação de importantes experiências. Um pedacinho do que se foi e não deve se perder com o tempo. Digo até mais: uma catarse.

A primeira página foi escrita em 27/11/01, e trata de temas frivolérrimos: o primeiro dia de férias, comprimento do meu cabelo e a expectativa de ter minhas amigas na mesma sala que eu no próximo ano. “Espero que a 5ª série seja legal!” Ginásio, uhul, hein ?

Que nada.

Conforme o tempo foi passando, meus depoimentos foram ficando cada vez mais... melancólicos. Lá pelos 11, 12 anos, desenvolvi um complexo de inferioridade e passei a viver sonhando e apostando todas as fichas num futuro maravilhoso importado diretamente de filmes americanos — cheio de summer nights e com capacidade para se tornar the time of my life (agora vejo como as doses cavalares de enlatados afetaram minha visão de mundo — but I like it).

Coisas absurdas também povoam esses pequenos extratos de fibra de celulose. Fiz algumas letras de música (sem comentários), coloquei frases tipicamente extraídas de livros de autoajuda e, não riam, por favor, passei minhas lágrimas no papel e coloquei uma seta indicando “Minha lágrima”. Bizarro é pouco.

Era ensimesmada, sofria à Maria do Bairro e achava que tudo dava errado pra mim. Aos 16, 17 anos, fiquei mais calma. Conquistei coisas importantes e deixei de me achar a última pessoa do mundo — talvez a penúltima ou antepenúltima, mas já estava bom assim. Ao entrar na faculdade, me decepcionei um pouco com a vida de universitária (mais uma vez sumariamente enganada pelos filmes americanos) e com o curso. Achava tudo uma chatice, marasmo sem fim. Já em 2010 foi diferente. Só escrevi cinco vezes, mas posso afirmar que o saldo foi positivo... fato inédito!

Terminei o diário no dia 1/1/11, o que não dá exatamente dez anos mas enfim-enfim. Fiz uma retrospectiva sobre os anos que se passaram, em especial o último.

Agora, estou a postos para começar meu novo diário, e espero que quando fizer 30 anos essas folhinhas despretensiosas também me façam rir e chorar, lembrando do que me levou a ser quem eu sou.


*Agora, petiscos do meu meigo caderninho, com comentários à luz da, caham, maturidade.

“Ontem recebi minha nota em Matemática: valia 7 e eu tirei 5. Tô pra morrer” 15/05/2002 Nerd demais. Lembro que inclusive chorei nesse dia... e isso tudo por causa do correspondente a um inocente 71%. Ah se eu sequer vislumbrasse as tranqueiras que ainda estavam por vir no ensino médio, hein?

“Hoje foi aniversário da Fulana, e no jogo de ‘Verdade ou Conseqüência’ perguntaram se eu gosto do Ciclano. Claro que não! Que coisa imbecil!” 01/05/2003 Eu gostava do Ciclano. Aliás, ele é o loirinho bebê Johnson protagonista do post “Sobre boladas e desilusões amorosas”, que publiquei há um certo tempo. Mas não admitia nem sob tortura, nem mesmo pro meu diário — tinha paranoia de alguém ler.

“Não sei o que há de errado comigo. As pessoas continuam me achando uma cdf idiota” 27/08/2003 Fazer o que, eu era.

“Cá estou eu com 15 anos, a idade que sempre sonhei. Namorado, vários amigos, saídas... 0% do meu ideal foi realizado” 18/04/2006 Típica insatisfação... mas devo reconhecer que meus 15 anos foram chatinhos mesmo.

“2009 bem aí e eu vazo dessa merda de cidade” 23/06/06 Esse foi o auge do meu sonho de fazer faculdade fora. Até cheguei perto, quando larguei tudo ano passado pra tentar uma vaga na USP. Mas acabei repensando e permanecendo.

“Passei no vestibular! Quem diria, hein? Não esperava nunca!” 29/03/2008 Uma das fases mais legais da minha vida.

“Ando meio desanimada com o curso, ainda não me encontrei” 20/03/2009 Ô angústia...

“Tomei uma decisão drástica: largar direito e tentar jornalismo fora! Tá difícil convencer o pessoal aqui a me deixar ir, mas vou fazer de tudo!” 05/01/2010 Tudo = Inúmeros escândalos.


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acho que voltei.