domingo, 21 de agosto de 2011

Libertà

E libertà per noi che navighiamo via, soltanto nell'idea del mare

Sì libertà per noi che rimaniamo qua, con il braccio alzato per salutare

Un dolce sogno di grandi mari e libertà.


Libertà per chi sfida il temporale. Libertà per chi ha le vele al sole.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobre Xuxa, parques temáticos e ambições

Eu nunca quis ser paquita.

Mas não porque desgostasse das soldadinhas de chumbo trabalhadas na água oxigenada. Do alto dos meus cinco anos, eu sonhava grande: queria ser a Xuxa. Afinal, por que me contentar em ser assistente quando eu podia ser a própria estrela? Ela era loira de olhos azuis, alta, descia de uma nave espacial e gravava especiais de Natal em cenários disneylândicos.

Mal sabia eu que aí estava o germe daquela que me acompanharia o resto da vida... a ambição. Mais do que apresentar um programa excessivamente policromático e mediar o famigerado “meninos x meninas”, eu, agora vejo, lá no fundo já almejava poder e visibilidade. É, isso mesmo.

Cheirando ainda a leite, poderia horrorizar Adorno e Horkheimer com minha adoração precoce pela Indústria Cultural: o fascínio da perspectiva de ter a minha cara estampada em vários produtos, lançar moda, dar autógrafos, ver gente chorando por mim e, pasmem, até ter um parque temático.

Nessa época, a Xuxa nem sequer tinha o dela (construído nos anos 2000 em um shopping de São Paulo). Sei que parece megalomaníaco demais para uma criança, mas eu realmente tinha essa ideia, e não imagino de onde a tirei. Cheguei a fazer um desenho do tal parque, uma espécie de planta com os brinquedos (só consigo lembrar da roda gigante com cabines em forma de nave) e uma imensa fachada cor-de-rosa. Mostrei para uma amiga, a Lis, mas não recordo sua reação. Acho que não ganhei muita atenção ela sempre preferiu as Chiquititas mesmo.

Aposto que a maioria das pessoas me vê hoje como relativamente pacata. Mas a influência de Lady Maria da Graça não me deixaria incólume. Não se enganem com a fala doce: a inquietude me consome. Pra começar, sou extremamente perfeccionista. Do tipo que quer tudo, e pra ontem. Neurótica com erros. Sedenta por novidades. Acometida por Fomo (Fear Of Missing Out). E competitiva. Não na vertente Regina George da coisa, mas por sentir-me mortificada quando alguém se destaca em coisa que sei que também poderia fazer.

A frustração é inevitável, pois tantas ideias e planos podem às vezes dar a sensação de não conseguir fazer nada ao fim e ao cabo. Mas também é bom, visto que o alcance de uma plena "satisfação" significa perda de sentidopelo menos para mim.

Não sei até onde tudo isso poderá me levar... Só espero que a bem longe. Daqui a alguns anos encontro vocês por aí em algum lugar: redação de jornal, escritório, set de filme, fazendo mochilão pelo mundo...


Ou, vai saber, até mesmo dando voltas na roda gigante do meu parque temático.

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Amigas, em todo o caso, o TessWorld desde já garante passaportes vipíssimos para vocês, ok? HAHAHA

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O cara perfeito

Descrever "o cara perfeito" não pode furtar-se à típica resposta feminina: a tríade universal bonito-gentil-e-romântico. Ok. Mas, e se fosse possível moldar o cara realmente perfeito, em todos os mínimos detalhes, aquele do tipo "tudo que eu sempre sonhei"? Em uma ociosa noite pré-feriadão, me propus essa tarefa.

Deixe-me ver. O meu Apolo imaginário, vamos lá, me acompanha na escassez de melanina: é branco, branco mesmo, tanto que no seu braço dá pra fazer Duplex Scan a olho nu. É daqueles que não podem permanecer em um ambiente quente por cinco minutos sem já ficar esbaforidos e com as bochechas rosadas. A costa é um lençol, e cheia daquelas pintinhas marrons bonitinhas.

É engraçado e faz imitações hilárias, de Silvio Santos a Axl Rose, do tipo que reúnem uma roda em torno. “Cara, você é bom, hein? Podia fazer stand-up!”. Ele também sabe rir de si mesmo. É lindo, mas parece não se dar conta disso (e o melhor, nem ligar pra isso), e adora tirar sarro dos seus pequenos defeitos, como aquele dente levemente torto e a cicatriz meio esquisita no pé. Até mesmo quando escarnece dos meus é divertido.

Sotaque é indispensável. Apetece-me o do interior paulista, com seu “r” puxado (porrrta) e “e” bem aberto (sémestré). Não sei, me passa inocência e aconchego. Aliás, por falar em inocência, o sorriso e o olhar têm que ser ingênuos. Não infantis, mas despretensiosos, puros. Ele é o tipo de pessoa que não imagino fazendo mal a uma mosca. Que tem cara de quem ajuda a velhinha a atravessar a rua e se engaja em causas humanitárias.

É descendente de europeus, com um sobrenome impronunciável cheio de consoantes. Quem sabe poderíamos até fazer uma viagem por sua terra de origem, que rendesse mil fotos lindas para eu colar no mural e encher o saco das visitas mostrando. Aliás, ele A-M-A viajar e conhecer novos lugares, bota a maior fé em fazer a volta ao mundo comigo.

Os olhos são azul-escuros cheios daqueles tracinhos, que formam caleidoscópios celestes cujo brilho refletido pelo sol é embasbacante. Pena que não posso apreciar por muito tempo, pela maior sensibilidade que as íris claras têm à luminosidade, levando-o a fechá-los quase que imediatamente. Fofo.

O cabelo é liso, daquela tênue cor entre loiro escuro e castanho claro. Corte estilo Robert Schwartzman. Alto, acho que uns 1,85 m. Magro, mas não esquelético. Cheiroso. Braços fortes, jamais musculosos. Sobrancelha definida, porém não muito cheia. Cara de homem, mas com traços finos. Abro exceção para um discreto nariz de tucano, acho charmoso.

Não é vaidoso nem tenta impressionar, porque não precisa. Toca violão e guitarra — um instrumento exótico também cai bem, tipo gaita. Tem a voz suave, daquelas que ao mesmo tempo te dão vontade de dormir de tão terna e te deixam insone de tanto encanto. Gosta de rock anos 70 e 80. Tem outros dons artísticos, como saber desenhar (e obviamente fará um lindo — e benevolente — quadro meu).

Não é pegajoso nem puxa-saco. Sabe a hora exata de me elogiar e dizer que gosta de mim. E quando faz isso, é arrebatador. Escolhe as palavras certas e eu sempre acredito, porque sei que é verdade.

Inteligente, claro. É o queridinho dos professores: “Esse menino tem um futuro brilhante”. Gosta de ler, vê muitos filmes e é bom de matemática. Sim, porque eu, como retumbante fracasso em números, não posso ver homem que sabe cálculo — morro de amores. Fala inglês e espanhol fluentemente, e ainda humilha numa língua estranha que aprendeu pra “passar o tempo”. Porque, ah, bom... ele é perfeito.

Não consigo nem olhá-lo sem meu estômago revirar, mas ao mesmo tempo, me sinto indescritivelmente confortável perto dele.

Se você existe, cara perfeito, apresente-se. E que meu indubitável amor à primeira vista seja eterno enquanto durar.

Comoção nacional, comoção jornalística

Já deu de mostrar toda hora esse bandido, hein? Só estão fazendo justamente o que ele queria...”

“Pronto, Wellington vai virar celebridade e ser transformado num mártir pra outros perturbados. Parabéns, imprensa!”

“Jornais como sempre capitalizando na desgraça alheia. Será que não basta de choro e sofrimento?”

Tweets a respeito do Massacre de Realengo.

Quando li estes comentários, fiquei com uma certa agonia da mídia. Será que estão mesmo forçando a barra? Logo depois, me coloquei na posição de pura espectadora. E num exercício de sinceridade, me perguntei e respondi sem hipocrisias: tive eu interesse em ler/assistir àquelas matérias? Não posso mentir, sim.

Quis saber do histórico familiar e escolar do homicida, ver o estado dos pais cujos filhos de repente viraram vítimas da situação grotesca e sem precedentes no país, assim como o que os sobreviventes testemunharam e como se sentiam agora. Pronto, falei. E creio que se a maioria das pessoas expressasse total honestidade, também admitiria tal curiosidade, esperando, portanto, exatamente o que os meios mostraram — um pouco mais, um pouco menos.

Posteriormente, como estudante de jornalismo, procurei colocar-me no lugar de um colega de profissão que estivesse cobrindo o fato. Pânico. O que fazer? Deveria eu apenas citar o bê-a-bá da notícia ou ir atrás de desdobramentos que porventura pudessem causar desconforto? Devo satisfazer somente o interesse público ou também o interesse do público? Essa classificação é, talvez, a maior dúvida do Jornalismo. E decorrente dela é o drama lancinante que nos acomete, pobres repórteres hamletianos, em momentos em que olhamos para a cabeça do editor, quase fumegando de tanto estresse, e podemos imaginá-la em nossas mãos, sendo indagadas: "Ser ou não ser sensacionalista? Eis a questão"

Capturar Cérbero é fácil, quero ver é Hércules realizar o 13º trabalho de cobrir um fato de comoção nacional. Porque só mesmo uma temporada no Olimpo e uma imortalidade básicas para compensar a dificuldade disso.

Lógico que tiramos daqui os extremos de mau gosto que existem por aí e falamos do jornalismo, hm, sério, ou que pelo menos tem a pretensão de sê-lo. É sempre difícil saber o que já virou exagero quando se cobre um acontecimento que por si só é hiperbólico. Seria tão mais prático se houvesse um medidor de sensacionalismo, né? Tipo:

Imagem do enterro = Ok.

Close nos parentes chorando = Nível tabloide britânico.

Narração adjetivada e carregada= Deixe os discursos poéticos para Pedro Bial.

Mas isso não existe.

Apesar de muitas vezes o famigerado “mostrar o lado humano da tragédia” ser eufemismo para explorar a desgraça alheia ao máximo, a realidade não é edulcorada mesmo. E precisa ser mostrada.

Expor fotos e vídeos de Wellington, entrevistar o “Maníaco do Parque” ou os Nardoni em horário nobre, desvelar a vida de luxo e poder que traficantes levavam no Morro do Alemão... Isso de certa forma é dar publicidade a crimes? Sim. Isso pode encorajar outras mentes doentias? Sim. Então, isso deve ser extirpado dos noticiários? Não.

Acho que se os jornalistas podem ter acesso a esses materiais, eles têm que ser divididos. Porque eu e você, mesmo que consideremos essas coisas desagradáveis, temos o direito de tê-las publicadas.

Na minha opinião, o problema é da forma, e não do conteúdo. Eventuais excessos na abordagem ocorrem, mas o mundo é intenso e chocante de fato, não há como escapar disso. Se os jornais só mostrassem amenidades, o problema seria outro: alienação.

Se você sente ojeriza pelo confronto direto com a informação, a melhor coisa que pode fazer é simplesmente tentar evitar olhá-la. E aliás, a única também.

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Escrevi esse texto há uns dois meses e chego aqui, contrariando o preceito básico de atualidade imperativa da minha profissão, um tanto ( bastante) atrasada para comentar o caso. Entretanto, apesar de o ocorrido já não estar mais tanto em pauta, a discussão sobre o sensacionalismo no jornalismo é atemporal.

sábado, 26 de março de 2011


Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul.






Lo-lee-ta: the tip of the tongue taking a trip of three steps down the palate to tap, at three, on the teeth. Lo. Lee. Ta.

She was Lo, plain Lo, in the morning, standing four feet ten in one sock. She was Lola in slacks. She was Dolly at school. She was Dolores on the dotted line.

But in my arms she was always Lolita.







What drives me insane is the twofold nature of this nymphet, of every nymphet perhaps, this mixture in my Lolita of tender, dreamy childishness and a kind of eerie vulgarity.


I knew, of course, that for her it was only an innocent game, a bit of backfisch foolery in imitation of some fake romance, and since (as the psychotherapist, as well as the rapist, will tell you) the limits and rules of such girlish games are fluid, or at least too childishly subtle for the older part to understand —I was dreadfully afraid I might go too far and cause her to start back in revulsion and terror.


We loved each other with a premature love, marked by a fierceness that so often destroys adult lives.







He broke my heart, Humbert. But you, you merely broke my life.



quinta-feira, 17 de março de 2011

"Anjinho"


A quieta, a certa, a parruda

A calada, a falada

mal-interpretada?

A transparente

A quase-inocente

A inescrupulosa

A rockeira

A fresca, a exigente

A que não gargalha com a gente

A magra, a modelo

Beleza sem elo

Boa aluna, santa

De gentileza, uma boa fortuna

A amiga amigável

Porém nada sociável

Indiferente, inconstante

Não se alegra nem quando contente

A excêntrica, meio emo

Adora estar lendo

Não sorri, não sai, não ri

Fria, perpétua, singela

Assim como uma boa Cinderela

Rosa branca, difícil de cativar

Boa amiga, difícil de encontrar

Teresa, amiga cereja

Branquinha, anjinho, bonitinha

Assim é a nossa amiga Têzinha.

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Revirando uma caixa de papéis hoje, deparei-me com essa poesia que uma amiga fez para mim no 1º ano... Uma gracinha. Discordo de certas características, como "meio emo” e “inescrupulosa”, usadas aí em licença poética, hehe. E há outras que já não fazem mais parte de mim, como a extrema seriedade... Fiquei mais sorridente e comunicativa, né? Digam que sim!

Quanto ao "anjinho"... Bom, deixo sob a avaliação de vocês.

P.S: Quero mais poesias sobre mim (egocêntrica sempre)

sábado, 12 de março de 2011

O mito da amizade eterna


Encontrei uma ex-amiga outro dia. De tantas combinações com o prefixo, talvez seja esta a que crie a mais estranha alcunha para alguém. O ex-amigo, tal qual a névoa de inversão térmica que flutua acima de São Paulo, paira sobre todos os outros status de relacionamento. E essa ideia cinzenta e amorfa é capaz de confundir nossos sentimentos à maneira da poeira aos olhos.

Pois bem. Muito tempo passado desde que nos falamos e vimos pela última vez, após uma quase-briga no último ano do colégio, eu e a garota topamos na fila para uma boate. Atualmente morando em outro estado, ela estava de férias aqui. Avistei-a de longe com alguns amigos nossos da época secundarista. Ela sorriu para mim, e eu, sem saber direito o que fazer, dei outro sorriso de volta, bem amarelo. Dentro da boate, nos encontramos de novo. Pensei: “Não vou bancar a imatura. Afinal, podemos superar isso, mesmo que superficialmente”. E lá fui eu expressar cordialidade. A menina tentou passar simpatia, perguntou sobre a minha vida, o que eu andava fazendo, quem eu namorava e tudo mais. “Vamos ao cinema domingo?”, forçou, até. Entretanto, as coisas realmente não eram mais como antes. Conversamos educadamente, mas não consegui nem sequer esboçar interesse em estar ali. Ela era uma estranha.

Nosso afastamento foi causado por uma sucessão de episódios que me fizeram perder a confiança naquela que, veja só, era não somente minha amiga, como a minha melhor amiga. Eles culminaram em um acontecimento que tornou insustentável nossa relação, pelo menos para mim. Quando a encontrei agora, confirmei o que já suspeitava: nunca mais poderíamos estabelecer algo próximo de uma amizade.

De vez em quando, confesso que olho antigas fotos e papéis de conversas e sinto uma ponta de saudade daquela época. Porque, por mais que a menina me desse muita dor de cabeça, era alguém com quem eu podia desabafar, rir das coisas mais bobas, passar a tarde cantando e discutir horas a fio sobre garotos. Eu lembro bem do violão, do quarto laranja onde dormi algumas vezes, daquele cachorro de estimação imenso do qual eu morria de medo e até do dia em que tentamos pintar o cabelo dela de azul com papel crepom.

Dizem por aí que a amizade é um amor que nunca morre. Infelizmente, não é verdade. Quando se trata de pessoas, nada é eterno. E a amizade é muito bonita, mas humana: está sujeita às nossas metamorfoses.

São muitos os que achávamos que seriam nossos companheiros para sempre, mas que evadiram-se pelos caminhos da vida. As razões são diversas: distância, falta de tempo, namoro, ou até mesmo a substituição por amigos “melhores”. Às vezes nem sequer há uma razão.

Sinto falta daqueles que perdi ao longo dos anos. O paulista gente boa sempre disposto a me ouvir todas as manhãs. A adolescente meiga com quem eu passava os recreios e compartilhava a esdrúxula mania de arrancar cabelos. Aquela que vinha tomar banho de piscina na minha casa e discutir a capa do cd do Nickelbak (até hoje ainda não resolvemos essa polêmica, depois explico a vocês). Até mesmo a Érika — nunca esqueci que o nome dela é com "k"—, da segunda série, uma magricela dentucinha que andava comigo pra cima e pra baixo. Sem contar a minha carne-e-unha do ginásio, cujo número do telefone sei de cor até hoje. E a Daniela, meu Deus, lá do Rio, será que sequer ainda lembra de vez em quando que eu existo?

Essas pessoas não estão mais comigo, mas me fizeram felizes enquanto estavam. É por tal razão que procuro aproveitar ao máximo todos os queridos amigos que tenho hoje. Não por pensar que têm prazo de validade na minha vida, e sim por saber o quanto são valiosos. Porque ninguém pode garantir que as amizades serão eternas, é verdade, mas pelo menos as boas lembranças delas, essas sim o são.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Toda mulher é doida

"Toda mulher é doida. Impossível não ser.

A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais.

Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar louca e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.

Eu só conheço mulher louca.

Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.

Pois então. Também é louca. E fascina a todos.

Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham.

Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.

Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora.

E santa, fica combinado, não existe.

Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada?

Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."

Martha Medeiros

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Querido Diário

Algo bastante significativo aconteceu na minha vida há uns dias. À primeira vista simplório e singelo, bobo até, mas que realmente importou para mim: escrevi a última página do meu diário.

Tenho-o comigo desde os dez anos, o que torna o fato mais simbólico ainda: na virada para os 2.0, este decênio traduzido em letras feias rabiscadas nas folhinhas decoradas por potes de mel e simpáticos ursinhos Pooh com seus inflados abdomens representa metade da minha vida, e termina justamente quando me inicio em outra década.

Sei que muitos associam o hábito a garotinhas meio acéfalas que suspiram por um menino qualquer do colégio e sacramentam suas paixões com corações flechados preenchidos com seus nomes e os dos objetos de afeto. Eu, porém, refuto totalmente essa ideia — muito distorcida. Sempre achei diário uma maneira fantástica de resgatar o passado, rememorar os acontecimentos, o que passava pela sua cabeça, seus medos, inseguranças, a sensação de importantes experiências. Um pedacinho do que se foi e não deve se perder com o tempo. Digo até mais: uma catarse.

A primeira página foi escrita em 27/11/01, e trata de temas frivolérrimos: o primeiro dia de férias, comprimento do meu cabelo e a expectativa de ter minhas amigas na mesma sala que eu no próximo ano. “Espero que a 5ª série seja legal!” Ginásio, uhul, hein ?

Que nada.

Conforme o tempo foi passando, meus depoimentos foram ficando cada vez mais... melancólicos. Lá pelos 11, 12 anos, desenvolvi um complexo de inferioridade e passei a viver sonhando e apostando todas as fichas num futuro maravilhoso importado diretamente de filmes americanos — cheio de summer nights e com capacidade para se tornar the time of my life (agora vejo como as doses cavalares de enlatados afetaram minha visão de mundo — but I like it).

Coisas absurdas também povoam esses pequenos extratos de fibra de celulose. Fiz algumas letras de música (sem comentários), coloquei frases tipicamente extraídas de livros de autoajuda e, não riam, por favor, passei minhas lágrimas no papel e coloquei uma seta indicando “Minha lágrima”. Bizarro é pouco.

Era ensimesmada, sofria à Maria do Bairro e achava que tudo dava errado pra mim. Aos 16, 17 anos, fiquei mais calma. Conquistei coisas importantes e deixei de me achar a última pessoa do mundo — talvez a penúltima ou antepenúltima, mas já estava bom assim. Ao entrar na faculdade, me decepcionei um pouco com a vida de universitária (mais uma vez sumariamente enganada pelos filmes americanos) e com o curso. Achava tudo uma chatice, marasmo sem fim. Já em 2010 foi diferente. Só escrevi cinco vezes, mas posso afirmar que o saldo foi positivo... fato inédito!

Terminei o diário no dia 1/1/11, o que não dá exatamente dez anos mas enfim-enfim. Fiz uma retrospectiva sobre os anos que se passaram, em especial o último.

Agora, estou a postos para começar meu novo diário, e espero que quando fizer 30 anos essas folhinhas despretensiosas também me façam rir e chorar, lembrando do que me levou a ser quem eu sou.


*Agora, petiscos do meu meigo caderninho, com comentários à luz da, caham, maturidade.

“Ontem recebi minha nota em Matemática: valia 7 e eu tirei 5. Tô pra morrer” 15/05/2002 Nerd demais. Lembro que inclusive chorei nesse dia... e isso tudo por causa do correspondente a um inocente 71%. Ah se eu sequer vislumbrasse as tranqueiras que ainda estavam por vir no ensino médio, hein?

“Hoje foi aniversário da Fulana, e no jogo de ‘Verdade ou Conseqüência’ perguntaram se eu gosto do Ciclano. Claro que não! Que coisa imbecil!” 01/05/2003 Eu gostava do Ciclano. Aliás, ele é o loirinho bebê Johnson protagonista do post “Sobre boladas e desilusões amorosas”, que publiquei há um certo tempo. Mas não admitia nem sob tortura, nem mesmo pro meu diário — tinha paranoia de alguém ler.

“Não sei o que há de errado comigo. As pessoas continuam me achando uma cdf idiota” 27/08/2003 Fazer o que, eu era.

“Cá estou eu com 15 anos, a idade que sempre sonhei. Namorado, vários amigos, saídas... 0% do meu ideal foi realizado” 18/04/2006 Típica insatisfação... mas devo reconhecer que meus 15 anos foram chatinhos mesmo.

“2009 bem aí e eu vazo dessa merda de cidade” 23/06/06 Esse foi o auge do meu sonho de fazer faculdade fora. Até cheguei perto, quando larguei tudo ano passado pra tentar uma vaga na USP. Mas acabei repensando e permanecendo.

“Passei no vestibular! Quem diria, hein? Não esperava nunca!” 29/03/2008 Uma das fases mais legais da minha vida.

“Ando meio desanimada com o curso, ainda não me encontrei” 20/03/2009 Ô angústia...

“Tomei uma decisão drástica: largar direito e tentar jornalismo fora! Tá difícil convencer o pessoal aqui a me deixar ir, mas vou fazer de tudo!” 05/01/2010 Tudo = Inúmeros escândalos.


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acho que voltei.